domingo, 18 de maio de 2008

O dificíl adeus a Zélia Gattai



Zélia Gattai - Anarquistas, graças a Deus

”A escritora e acadêmica Zélia Gattai morreu ontem aos 91 anos, em Salvador. Memorialista, ela fez de sua vida ao lado de Jorge Amado parte importante de sua obra”. Diante desta triste notícia, publicada hoje no jornal O Globo, fica impossível escrever outra coisa que não seja sobre a inesquecível minissérie "Anarquistas, graças a Deus", que foi baseada no romance da escritora Zélia Gattai, exibida em nove capítulos, às 22h, pela Rede Globo em 1984.

A morte da escritora deixou o Brasil sem uma suas mais importantes memorialistas, num país de tão pouca memória. Seu último livro publicado foi "Vacina de Sapo", em 2005, que contava os três últimos anos de vida do casal, quando Jorge Amado já enfretava problemas de saúde. (Foto: Zélia e Jorge Amado em Salvador).


A minissérie foi adaptada por Walter George Durst e teve tratamento cênico do diretor Walter Avancini. Eram crônicas sobre o cotidiano da família Gattai, imigrantes italianos que vieram para o Brasil perseguindo o sonho da Colônia Santa Cecília, reduto anarquista, e que viveram em São Paulo, acompanhando o crescimento da cidade. Ernesto Gattai (Ney Latorraca) era o elemento chave deste núcleo. Assim como pai, ele mantinha inalterados certos princípios de igualdade e justiça. Ao seu lado, dona Angelina (Débora Duarte, em um dos melhores desempenhos de sua carreira), mulher forte e sensível que conseguia conviver com os sonhos do marido sem tirar os pés do chão. Lia Victor Hugo e Zola, mas também os folhetins de romances desvairados. Jogava no bicho e estava sempre atraída pelos enterros que passavam diante de sua porta. Pelo comportamento dos acompanhantes do caixão, já sabia se, depois do cemitério, ia ter festa. Aí, ela trocava de roupa e entrava no cortejo.

Eles foram importantes para a formação dos filhos, a caçula Zélia (Daniela Rodrigues, que era a narradora da história); o Bon vivam Remo (Marcos Frota); a bonita e voluntariosa Wanda (Christiane Rando); Vera - a preferida - (Lilian Zizzachero); e o artista da casa, Tito (Afonso Nigro).

Outro membro importante era o vovô Eugênio, o Nono (Gianni Ratto), uma pessoa com ampla, sofrida e sábia visão do mundo. Não era apenas a história de uma família, mas também um retrato paulista dos anos 10 e 20, quando transformações sociais, políticas e econômicas aconteceram. A série tinha sido programada inicialmente para as 18h, depois se pensou em recorrer a ela para substituir a novela “Sol de verão”, às 20h, após a morte do ator Jardel Filho, em 1983. Com um ano de espera acabou indo ao ar, como tapa-buraco: sua estréia foi antecipada porque não ficou pronta a atração anunciada, a minissérie "Meu destino é pecar". Quem assistiu sabe que valeu a pena esperar, pois o sucesso foi grande e inesquecivél.

Um adeus carinhoso a inesquecível Zélia Gattai.

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